sábado, 23 de junho de 2012

Ponto de situação

Once upon a time - check. Status: aguardar o mês de Setembro.
Grey's Anatomy - 7ª temporada: check. 8º temporada: episódio 6.

Sabem?

Sabem como é recordar, com todo o detalhe e precisão, um cenário e acontecimento da vossa vida que em momento algum fizeram questão de memorizar mas que teima em surgir sem pré-aviso?

Eu sei. E confesso que após inúmeras tentativas falhadas que nem uma seta fora do alvo, aprendi porque só assim conseguimos voltar a suportar o peso do arco no nosso ombro, a viver com essas memórias incómodas tanto quanto um bocado de comida no dente que teima em não querer sair, no meio de um jantar com pessoas desconhecidas.

 Eram três ou quarto horas da tarde, tocava Coldplay com o tema Yellow. Na altura já tinha aderido à fase de "comprar um telemóvel por mais de 10 euros é crime" e os meus dias eram passados em frente ao, ainda actual, meu melhor amigo computador (sim, eu sei que estão todos doidos por me chamarem geek). Os dias lá fora eram tão quentes que se tornava insuportável ficar à sombra de uma oliveira qualquer a comer o gelado que derretia e nos obrigava a lambuzar as mãos e nos dava direito a uma troca de palavras com a figura maternal que sempre se ocupava de tornar a imundice numa coisa cheirosa e vistosa. Aquela coisa que liberta radiações dia e noite lá decidiu vibrar e tocar. No visor, apareceu um motivo para sorrir e prontamente atendi, não podia deixar o sorriso para depois. Afinal, quais são as probabilidades? 6.178 pessoas/hora. Afinal são maiores do que pensava. Uma grande dose de Grey's Anatomy faz-me sempre acreditar nos contos de fada que tentam impingir por meio de seringas e cancros e coisas. E, na verdade, aquela chamada acabou por fazer parte das estatísticas. Não sei, penso que nunca saberei e também não faço muita questão de tentar saber ou tentar explicar toda a panóplia de pensamentos que invadiram os meus neurónios trabalhando em modo sináptico. Confesso, a minha área de Wernicke ficou quase afásica e a Broca acabou por vencer com os seus espasmos apalavrados de "não acredito!" a cada dois segundos. 


Sabem aquela dor incómoda que sentem quando temos metade da cueca enfiada no rabo e à nossa frente o tipo mais jeitoso e carinhoso, desejoso de espetar os seus lábios contra os nossos e o batimento cardíaco começa a aumentar? Essa dor tem durado mas não é por causa da cueca nem do tipo jeitoso nem tão pouco do batimento cardíaco.

É aquela coisa forte e grande mas que não se vê. É do que todos têm medo de admitir, até que um dia é tarde demais. É o anti carpe diem. É desperdiçar o dia a apreciar sorrisos fotografados na esperança que isso faça sonar sinos na igreja cerebral de um misterioso ser que teima em arbitrar um jogo sem apito nem cartões vermelhos. É desejar estar hoje quando não sabemos se podemos estar amanhã, é saber levantar a bandeira nos fora de jogo. É fazer foguetes clarear a noite, não deixando lugar para admirar as estrelas que nos vêm atentamente a partir do céu e que brilham só para cativar cinco segundos da nossa atenção. É amor, é ódio, é paixão, é nostalgia, é saudade. É viver.