quinta-feira, 5 de julho de 2012

O que é feito de ti?

Já tentei, mas dou por mim perdida num labirinto sem fim, entre duas paredes de erva tão verde quanto um pepino, que nem eterna incompreendida num mundo onde os nossos ouvidos empurram com uma cana preconceitos exteriores do quanto-mais-curta-melhor e quanto-mais-músculo-melhor, até que fiquem bem implantados e as ideias passem a nascer ali.
Que o cérebro masculino migrou para a cabeça de outro órgão, já não é novidade. O problema é que isso deu-lhe a volta à cabeça, se é que me faço entender. Portanto, existem duas opções: a) olhar, comer, reciclar; b)escolher outra para olhar, comer e reciclar. Como é complexo o seu mundo!
E do cérebro feminino, que é feito dele? Perdido entre o fazer contas às horas nocturnas mal dormidas e um folheto de maquilhagem do século vinte-e-cinco. Que desperdício de papel, de lençóis e de saltos altos.
O que é feito do diálogo entre dois seres humanos, do prazer no conhecimento mútuo, da musicalidade partilhada, do devorar incessante de obras literárias, dos sorrisos ingénuos da vida, do verdadeiro e natural interesse por outrém?
O que é feita da nossa definição de feio/bonito, magro/gordo, alto/baixo? Que nem uma manta preta que saiu rosa, após centrifugação a 1200.
O que é feito dos pequenos e deliciosos sabores da vida? Do berlinde, da cabra-cega, das escondidas e apanhadas?
O que é feito daquelas tardes solarentas contra a relva do jardim, com um cesto de piquenique repleto de papessecos a transbordar de manteiga e um ucal fresquinho, a presenciar conversas espontâneas, despidas de preconceitos e indiferentes às desgraças alheias?

Enfim, dou por mim a matutar interminavelmente todas estas questões sem, no entanto, conseguir uma resposta concreta - não pensem que me resigno a um "perdidos no tempo e apagados da memória" - ou algo que possa saciar esta sede de recuperar e viver num tempo que já não é meu, nem de ninguém.

Sem comentários:

Enviar um comentário